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Arquitetura Urbana e Reabilitação da Cidade

a ação e o uso das artérias do quotidiano

Às ruas das cidades chamam-se artérias. Nasce-se em hospitais, vive-se em casas ou apartamentos, estuda-se em escolas, universidades. Divertimo-nos em cafés, em centros comerciais, em bares; usamos transportes públicos subterrâneos, visitamos museus e estádios, frequentamos restaurantes… No quotidiano, embora o possa parecer ao olho destreinado, a Arquitetura não é a simples construção: ela tem de impactar de forma positiva o quotidiano de um indivíduo e tem de respeitar e considerar os espaços onde pretende criar. 

 

É impossível negar que a organização dos espaços está presente no quotidiano de cada um. Neste sentido, e mesmo que não tenhamos essa consciência, ao nosso redor tudo é arquitetura: a começar pela natureza, tudo é simetria, desenho e interconexão. No urbano-social, tal como afirma o arquiteto Pedro de Castro e Silva, a Arquitetura serve o ser-humano desde que nasce e, até, no momento da sua morte “e o ordenamento e criação de todos esses espaços passa necessariamente pela mão dos arquitetos.” Em conivência, o bom arquiteto define-se como aquele que entende que o meio urbano é um organismo vivo. Por outro lado, o plano urbanístico constitui uma ferramenta imprescindível para uma cidade organizada, com espaços otimizados para a vida que neles habita. Dessa forma, o planeamento urbano - ou a falta dele - tem o poder de afetar de inúmeras formas a vida dos habitantes. 
 

Nas palavras de Pedro Castro e Silva “uma cidade planeada possui crescimento ordenado e organizado, sem a marginalização da população” ou seja, permite que, por exemplo, veículos e peões transitem sem conflitos, possibilitando que se circule durante o dia e durante a noite, em segurança. Uma cidade bem pensada faz a inserção do paisagismo com ordenação e ornamento: “se isto acontecer estamos certamente perante um território agradável e onde a economia pode ser dinamizada. Se as pessoas andarem mais satisfeitas, se as pessoas andarem mais felizes certamente que vamos ter uma economia muito mais pujante”, conclui o arquiteto. Como exemplo disso, Pedro Castro e Silva fez ainda uma comparação ao ato de visitar um espaço comercial, uma vez que estamos a experimentar um ambiente de vendas ou prestação de serviços bem projectado que conta com mobiliário bem adequado, bem distribuído e que facilita o atendimento. Também, se a isto juntarmos uma imagem representativa bem cuidada, com cores que sejam interessantes, que se adaptem ao conceito de cada uma das marcas, cada uma das empresas, isso vai permitir que a experiência de quem está numa loja a fazer uma compra seja uma experiência muito mais interessante.


 

Plano Urbanístico MunicipalPedro Castro e Silva
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Um bom projeto de arquitetura acaba, então, por ser uma resposta aos sonhos e ambições da sociedade. Se no passado esta sempre respondeu às necessidades, hoje também tem de responder às necessidades atuais que Luís Pinto Faria, responsável pela licenciatura em Arquitetura, na Universidade Fernando Pessoa, nomeia como a questão do habitar, da qualidade de vida, da saúde e da sustentabilidade. Uma percentagem muito grande da nossa vida é passada dentro de quatro paredes. Em jeito de brincadeira Luís Pinto Faria afirma que “não há lugar no mundo onde a mão do homem não tenha metido o pé” porque, de facto, já não podemos falar em mundo natural, o planeta é, neste momento, um planeta urbano, o que significa que é desenhado, que é pensado.

Também a questão da segurança é um ponto importante a ter em atenção quando um arquiteto faz um planeamento urbano e cujo processo é lento e rigoroso pois trata-se da qualidade de vida da população. Hoje, muitos espaços públicos são vistos como locais não tão seguros em milhares de cidades ao redor do mundo. A noção de segurança é perdida no momento em que uma localidade se torna vazia, não recebe iluminação, uso ou até mesmo a atenção adequada. As pessoas afastam-se intuitivamente de lugares vazios e sem interações como por exemplo, segundo Pedro Castro e Silva, “se nós tivermos uma rua a 500m do nosso local de trabalho que não tenha habitação ou marcos urbanos, e uma outra rua que tenha animação urbana mas que em termos de distância seja mais longe do nosso local de trabalho, provavelmente as pessoas são optar pela segunda opção porque se sentem mais seguras.”

O conceito de arquitetura acessível é primordial e simboliza a forma como o arquiteto pensa nos projetos antecipando as futuras necessidades dos clientes. Esta arquitetura não é feita apenas a pensar nas pessoas com mobilidade reduzida ou com algum tipo de incapacidade, mas sim na globalidade populacional porque “em qualquer momento das nossas vidas podemos estar com a nossa mobilidade condicionada”, tal como refere Pedro Castro e Silva. Esta tónica na acessibilidade ou na arquitetura inclusa é atualmente, ou deveria ser, uma das principais considerações de um arquiteto pois permite uma maior segurança no usufruir dos espaços físicos sem limitações.


 

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Reabilitar: uma forma sustentável de se estar na construção

Cada vez mais, as cidades vão assistindo à degradação progressiva das suas estruturas urbanas, dos seus edifícios, dos seus espaços exteriores. Uma degradação decorrente do envelhecimento próprio, da sobrecarga de usos. Atualmente, falando em construção arquitectónica falamos com vários “R’s” como “recuperação”, “renovação”, “revitalização”, “restauro”, “requalificação”, “reparação”, “reforço”, “restruturação” e, sobretudo o conceito chave de “reabilitação”. Termos que cada vez mais estão presentes no vocabulário arquitetónico.

Reabilitar construções existentes é, portanto, muito mais complicado do que construir a partir do zero. Exige materiais e tecnologias muito diferentes da construção nova e, evidentemente, quem construiu não é quem está mais habilitado a reabilitar. As intervenções de reabilitação envolvem uma elevada especialização, e uma complexidade bastante maior do que a execução corrente, exigindo uma muito maior minúcia e rigor de execução. Tal como diz a arquiteta Adriana Floret “é muito mais sustentável reabilitar do que construir de novo, porque ao construir de novo estamos a ocupar espaços na cidade que estão verdes ou que estão premiáveis, ao estarmos a construir estamos a deixar de utilizar aquilo que já existe” sendo que se está a possibilitar uma nova vida, uma nova oportunidade, uma nova história ao edifício mas sem que se perca a sua essência original. 

Projeto Hard Rock Café Porto

A empresa Floret - Oficina de Arquitetura é um gabinete que presta serviços de consultoria e projeto no âmbito da reabilitação e arquitetura desde 2001, liderada por Adriana Floret que aponta a projeto do Hard Rock Café Porto como um dos mais desafiantes e prazerosos, nas suas palavras “o edifício era muito bonito, muito trabalhado e o desafio era conseguir inserir naquele edifício uma função como o Hard Rock Café e que tinha uma série de condicionantes como o tamanho da cozinha, as infra-estruturas de ar condicionado, de ventilação dos espaços e onde tínhamos de conseguir integrar dentro do edifício com tetos trabalhados e com molduras. Depois foi um projeto onde trabalhamos com uma série de pessoas que estavam em todo o mundo. Tínhamos a equipa do Hard Rock em Barcelona, tínhamos a equipa de design em Orlando, tínhamos um arquiteto que trabalha com eles e que faz o layout principal e que estava na Polónia. Eram portanto reuniões em Skype semanais, com pessoas a falar diversas línguas, com um prédio no centro histórico da cidade junto aos Aliados, com um prazo de execução bastante reduzido, cerca de um ano entre projeto e obra. Foi preciso, para além de toda a dificuldade de projeto e dessa quantidade de pessoas, foi preciso muita entrega.”

A sustentabilidade é um conceito que faz parte da nossa vida e que é fundamental ter presente quando se fala em reabilitação pois trata-se da reutilização do existente poupando recursos e energia. Reabilitação implica a divisão em vários graus, pode ser melhorar apenas uma característica de um edifício ou pode ser algo mais amplo e com outras proporções. No entanto, independentemente do grau da reabilitação, esta introduz sempre algo na medida em que se prontifica a transformar para melhor. 

Hard Rock Café Porto

Porto e o seu caminho pela História

Sendo o Porto o caso principal em análise em termos de arquitetura e reabilitação é importante abordar o levantamento que tem vindo a ser realizado na zona histórica da cidade. Tal como diz Luís Pinto Faria “o Porto estava a precisar de reabilitação, aliás ainda está a precisar, a grande maioridade dos edifícios do Porto têm mais de 50 anos neste momento. E reabilitação, porque quando nós dizemos reabilitar esta palavra tem origem numa lógica de readequar, ou seja, readequar aos novos usos e às novas necessidades de qualidade de vida.” Seguindo esta linha de pensamento, o turismo apresenta-se como um forte aliado da cidade do Porto que atualmente se pode definir como uma marca, como uma cidade com identidade visual. Apesar dos seus muitos anos de existência e história, a cidade transpira jovialidade. Inundada por estudantes universitários e vida noturna agitada. Arte, design, cultura, “boa arquitetura”. “Porto.” é uma marca que carrega múltiplas visões e personalidades. É uma marca cheia de vida e de história de todos os moradores e turistas que por esta cidade passam. Tal como explica a arquiteta Adriana Floret, o turismo foi um facto impulsionador, foi uma alavanca para que se começasse a fazer reabilitação na cidade do Porto pois “ainda há pouco tempo ninguém queria reabilitar na cidade, porque achava que a cidade era escura, que não vivia ninguém e o turismo acabou por trazer pessoas, acabou por trazer investidores estrangeiros que olham para a cidade de outra maneira, que começaram a dar valor aos prédios nos quais nós tínhamos receio em investir.”

 

Contudo, são também várias as opiniões que divergem sobre as vantagens que o turismo tem carregado na reabilitação arquitectónica da cidade do Porto. Luís Pinto Faria afirma que a velocidade está a forçar e a criar uma condição em que as coisas se precipitam em termos de reabilitação. Também, a professora Sara Sucena caracteriza a cidade do Porto nos dias correntes como uma cidade que se preocupa excessivamente com o turismo, descurando os seus habitantes e uma cidade com muita afluência turística não é uma cidade sustentável, "porque não está a dar lugar aos seus habitantes de viver em igualdade de possibilidades como com o turismo." É possível aferir que o Porto não era assim há uns anos atrás e "está a passar os limites porque quando nós percebemos que os habitantes da cidade não têm espaço para eles eu pergunto se isto é ser sustentável? Não é, porque os próprios habitantes da cidade estão a sair.” 

Num passeio a céu aberto pela segunda maior cidade de Portugal, observamos um património arquitetónico rico em pormenores, curiosidades, vivências e principalmente que se diferencia pelas características próprias da sua época de construção. Caminhar pelo Porto é então contemplar as suas ramificações, as suas personalidades diversas, as suas identidades distintas. O Porto Medieval, o Porto Romântico e o Porto Contemporâneo. Um triângulo escaleno pois se caracteriza pelas suas diferenças notórias ao olhar de qualquer um.

O Porto Medieval deixou uma marca inigualável na história da cidade e é caracterizado pelos detalhes de uma zona ribeirinha sombria e fachadas em granito como é o caso da Igreja S. Francisco, a Muralha Fernandina, a Sé Catedral e a Casa do Infante. O Porto Romântico combina paixão e revolução. Segundo Joana Isabel Santos os caminhos do Românticos têm as suas particularidades bem vincadas e “quando os percorremos sentimos a nostalgia do século XIX.”. Passear por vielas em paralelos, iluminadas por candeeiros tipicamente da sua época, envolvidas por muros altos “faz-nos revistar um passado que continua presente nestes caminhos.” Como exemplo desta arquitetura temos a Rua das Flores, a Rua 31 de Janeiro e o Teatro Nacional de S. João. Em terceiro lugar, o Porto Contemporâneo é explicado pela observação da Avenida dos Aliados que se encontra no coração da cidade, pela Estação de Metro da Trindade, a Rua do Almada, a Casa da Música, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves e o Edifício Transparente.

 

  • Porto Medieval 

  • Porto Romântico

  • Porto Contemporâneo

A arquitetura apresenta de facto um papel primordial na sociedade e nem sempre tem esse reconhecimento. Acessibilidade, estética, sustentabilidade, economia, segurança e conforto. Estas são apenas algumas das funções que a arquitetura deve desempenhar com mestria e responsabilidade, em função de um futuro de uma cidade mais organizada e equilibrada, que estimula relações saudáveis entre as pessoas e a própria cidade e que promove o bem-estar social através da qualidade de vida.

 

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